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Archive for outubro \29\America/Sao_Paulo 2007

Googlar

IDADE MÍDIA
Especulações
em torno do verbo "to google"

Por Gabriel Perissé em 16/10/2007

O verbo to google nasceu em 1998. Tem quase 10 anos de vida. Significa
procurar informações na web através de consultas ao Google.

Em espanhol é "googlear". Em francês (com resistências),
"googler". Os alemães assumiram oficialmente o seu "googeln" em
2005. Num site italiano, lê-se: "il verbo googlare è diventato
di uso comune
". Já existem em português o "googlar" e o "guglar". Verbo
transitivo, inquisitivo, perseguidor, vasculhador. Mas nunca ouvi nenhum
brasileiro empregá-lo…

Fatalmente o verbo perderá (já está perdendo) sua referência ao Google. Tal
como gilete, em priscas eras, deixou de ser apenas a gilete da Gillette; tal
como podemos tirar xerox em qualquer fotocopiadora, mesmo que não seja da
Xerox Corporation. Vence a lei da generalização. A força do produto
enfraquece a marca original.

Qualquer mecanismo de busca, mesmo que não seja o Google, me permite googlar.
Sérgio Dávila já tratava do assunto na Folha de S.Paulo numa matéria em
janeiro de 2003. Naquela altura, começava a ser comum a cultura do googlamento.
Você vai sair com uma pessoa que ainda não conhece muito bem? Google-o antes e
descobrirá talvez que o ilustre-quase-desconhecido formou-se em faculdade de
prestígio ou participou de uma festa baixaria.

Ou poderá também "orkutar" essa pessoa, conhecer o seu perfil, as comunidades
que freqüenta, os amigos que adicionou. Ou, se tal pessoa tiver um blog, saberá,
graças ao blogar da própria pessoa, o que ela andou fazendo no ano passado.

Todos estamos sujeitos à googlagem ou à googlação. Existir, na Idade Mídia, é
ser googlável. Você pode estar sendo googlado neste minuto, por um amigo ou por
um desafeto. Ou por alguém que buscava outro alguém com nome semelhante ao seu.
E todos podemos googlar a nós próprios, fonte de surpresas agradáveis, ou nem
sempre.

Procurando no Google pela expressão "gosto de googlar", vejo que poucos
gostam: são apenas 3 googles. "Vou googlar" alcança míseros 476 googles. Apesar
disso, até Ivan Lessa, mas sempre com aquele ceticismo, aquela ironia, sabe que
o caminho é um só: "basta googlar".

Jornalistas googlam o dia inteiro. Na Gazeta de Alagoas, em março de
2003, um bom artigo sobre googlar.
É googlando que se aprende, ou se desaprende. O jornalista e pesquisador
português Herlander Elias, em 2006, definiu "googlar" como o "verbo da década".
Só googlando para encontrar a relevante informação.

Verdades Inconvenientes

9 VERDADES INCONVENIENTES
Juiz britânico aponta erros em filme de Gore

Por Leticia Nunes (edição), com Larriza Thurler em
16/10/2007

A Alta Corte britânica identificou nove "erros científicos" em Uma Verdade
Inconveniente
, filme de Al Gore sobre o aquecimento global que ganhou o
Oscar de melhor documentário este ano. O juiz Michael Burton analisou se o filme
estaria apto para ser usado em escolas britânicas, em um processo aberto por um
funcionário de uma escola pública, noticia Mary Jordan [The Washington
Post
, 12/10/07].

O juiz reconheceu que a produção mostra de maneira "poderosa" que o
aquecimento global é causado por humanos e que é necessário combatê-lo, porém
informou que há nove afirmações que não são baseadas em um consenso científico e
são, portanto, tendenciosas. "Os professores podem usá-lo, mas devem alertar aos
alunos para os erros", concluiu Burton, reforçando que o documentário não está
proibido de ser exibido nas escolas.

Acusações alarmistas

Dentre os equívocos, o juiz citou a suposição de Gore de que a Groenlândia e
a Antártica Ocidental podem derreter em um futuro breve, ocasionando um aumento
do nível do mar que devastaria São Francisco, Holanda e Bangladesh. Segundo
Burton, estas são acusações "alarmistas". Se a Groenlândia derretesse, o aumento
do nível do mar só ocorreria daqui a milhares de anos. Uma outra afirmação de
Gore é discutível: a de que os habitantes dos atóis do Pacífico tiveram de se
mudar para a Nova Zelândia por conta do aquecimento global. "Não há evidência
disto", rebateu o juiz.

Outro ponto de discussão seria um "novo estudo científico que mostra pela
primeira vez que ursos polares que nadaram longas distâncias para encontrar gelo
acabaram morrendo afogados". Burton alega que o único estudo sobre a morte de
ursos polares atribuiu os afogamentos a tempestades.

O aquecimento global é uma questão particularmente polêmica no Reino Unido,
onde o primeiro-ministro, Gordon Brown, disse que queria fazer do país um líder
mundial em limitação de emissões de carbono. No começo do ano, funcionários do
Ministério da Educação começaram a distribuir DVDs do documentário de Gore como
parte de um programa para educar três milhões de estudantes do ensino
fundamental sobre as mudanças climáticas.

Após críticas, Nobel

A determinação do juiz aconteceu um dia antes do ex-vice-presidente americano
ter ganhado o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho sobre aquecimento global, na
sexta-feira (12/10). Kalee Kreider, porta-voz de Gore, disse que ele estava
"satisfeito que a corte determinou que o argumento central de Uma Verdade
Inconveniente
estava aprovado pela comunidade científica". "De milhares de
fatos apresentados no filme, o juiz aparentemente questionou poucos", argumentou
ela.

Categorias:Saúde e bem-estar

Guerra Comercial

RECORD vs. GLOBO
Desligue
a TV e ganhe esta guerra

Por Fábio de Oliveira Ribeiro em 16/10/2007

As redes privadas de TV vivem do dinheiro que arrecadam dos anunciantes e
patrocinadores. Como estão mais comprometidas com suas sobrevivências, as
companhias fazem qualquer coisa para valorizar os intervalos comerciais. Assim,
a qualidade da programação vem em segundo lugar.

A disputa entre Record e Globo não vai necessariamente beneficiar os
telespectadores. Com ambas se engalfinhando por causa do pote de ouro no final
do arco-íris, o resultado pode ser o inverso.

A fórmula do jornalismo 24 horas já é uma velha conhecida. O Ted Turner
encantou o mundo ao criar a CNN, triunfou com a Guerra do Golfo, mas algum tempo
depois seu império noticioso deixou de ser tão interessante.

É literalmente impossível sustentar uma programação jornalística só com
novidades. Então as redes de TV que se dedicam exclusivamente ao jornalismo têm
que requentar a mesma notícia várias vezes. E ao fazerem isto elas se tornam
mais cansativas do que a internet.

Nem tudo está perdido

A baixa interatividade da TV brasileira e a concentração de poder na mão de
duas ou três grandes redes nacionais também provocam distorções. As grandes
redes não se interessam por temas locais. De que adianta o cidadão saber o que
ocorre no Oriente Médio ou em Mianmar em tempo real se aquelas realidades
distantes não reclamam nem possibilitam sua intervenção? Além disto, ao
concentrar sua atenção num local distante onde os telespectadores não podem
interferir, a mídia televisiva distancia os cidadãos das realidades do seu
bairro, da sua cidade, ou seja, dos locais em que eles poderiam atuar em
benefício próprio e de suas comunidades.

A competição jornalística entre as grandes redes tende a trazer para nosso
cotidiano mais notícias desnecessárias. Se a Record fizer a melhor cobertura
política da Ásia, a Rede Globo pode acabar se esforçando para cobrir em detalhes
a fauna e flora da Austrália. O resultado será curioso e desastroso. Nós nos
tornaremos especialistas em questões políticas chinesas e aprenderemos como
alimentar cangurus, mas as ruas de nossos bairros continuarão esburacadas e os
prefeitos e vereadores a fazerem o que bem entendem (e muitos entendem apenas de
traquinagens, que usam para se apoderar do dinheiro público enquanto ficamos
boquiabertos diante da TV).

Mas nem tudo está perdido. A guerra das TVs pode acabar se tornando uma
programação tão chata que muitos telespectadores desligarão suas caixinhas
luminosas sonorizadas e passarão a cuidar melhor de suas próprias
vidas.

Categorias:Organizações

Purtuguês de Futibol

TV GLOBO
O português dos
locutores esportivos

Por Deonísio da Silva em 16/10/2007

Quem acompanhou pela TV Globo o jogo Colômbia e Brasil, domingo último, pelas
eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010, pôde mais uma vez apreciar os
desvios da norma culta, às vezes enriquecedores, por ensejarem visão de todo
original, outras empobrecedores, por representarem simples abusos e
irresponsabilidades, como se os jornalistas esportivos estivessem acima de
obrigações de colegas de outras especialidades na imprensa e tivessem licença
para transgredir as normas.

Assim, o narrador Galvão Bueno pergunta ao comentarista Paulo Roberto Falcão
se o Brasil "mexeu" no intervalo.

Bem, um dos sentidos do verbo mexer, do latim miscere, misturar, é
movimentar-se, e nesse sentido o Brasil não se mexeu muito no primeiro
tempo.

Provavelmente, pelo contexto, os telespectadores entendiam o novo significado
do verbo mexer, que não era o de misturar ou de movimentar-se, mas o de
substituir alguém. Mexer no time tem este significado.

Com todos os recursos tecnológicos disponíveis, cuja excelência era
constantemente reiterada por closes, repetições e novos ângulos, os
telespectadores passaram quase todo o primeiro tempo sem saber que o goleiro
Júlio César não levara um cartão amarelo, informação passada logo nos primeiros
minutos.

O goleiro não recebera cartão amarelo, tal como erroneamente tinha sido
informado por Galvão Bueno, no lance em que tentara substituir a bola murcha. E
quando recebeu o primeiro, que para Galvão era o segundo, e portanto deveria ser
expulso, pois de acordo com as normas o segundo cartão amarelo num jogo vale por
um vermelho, permaneceu em campo. Foi preciso o intervalo do primeiro para o
segundo tempo para se saber que o cartão amarelo atribuído a Júlio César tinha
sido dado a Lúcio.

Outro verbo curioso é enfiar, cuja origem é fio, do latim filum. No
sentido figurado, como era o caso, quando se diz que determinado jogador enfiou
a bola para o companheiro, é como se um fio a levasse de um a outro jogador.

Enfiar, verbo de múltiplas acepções, tem, neste caso, o sentido de colocar a
bola num determinado ponto, entre adversários.

Mas colocar, no futebol, tem um significado bem diverso do que lhe dão os
dicionários. Significa chute fraco e preciso na cobrança de faltas,
especialmente do pênalti, em que a bola é como que colocada em seu destino com a
mão. Ou, no dizer poético de Armando Nogueira, quando o jogador dá ao pé
astúcias de mão.

Linguagem barroca

Desde as criativas metáforas e outras ricas figuras de linguagem barroca, com
as quais o locutor de rádio, Fiori Gigliotti maravilhava os ouvintes, passando
pelo entusiasmo e arranjos engenhosos na sintaxe, como fazia Osmar Santos com
"ripa na chulipa e pimba na gorduchinha", têm sido raros os lampejos de
criatividade de nossos locutores e comentaristas esportivos. Parece que a
televisão os desobriga de dominar a língua portuguesa…

Na TV Globo, especialmente, eles se distinguem pela aparência bem cuidada,
ternos e gravatas de grife.

Aliás, também a origem desta palavra remete a luta. Vem do francês
griffe e originalmente designava a garra pontiaguda de certos animais,
passando depois, por metáfora, a significar também a engrenagem do projetor em
cujos dentes as perfurações do filme são encaixadas para que ele possa ser
exibido.

A grife de uma roupa, como é o caso, ensejaria que no campo e fora dele
locutores e jogadores tivessem a garra de bons lutadores, convictos de que o
futebol brasileiro tem uma grife insuperável, como demonstram os títulos
conquistados, entre os quais o de pentacampeão do mundo, expressão literalmente
inadequada e incorreta, pois o Brasil não foi campeão cinco vezes ininterruptas!
Mas o uso alterou a norma e, a partir do tricampeonato conquistado no México,
consolidou-se o novo uso. A rigor, o Brasil foi apenas bicampeão (1958 e
1962).

Domingo último, porém, parece que a altitude afetou também o mais popular de
nossos narradores.

Ricos também devem ser protegidos

MÍDIA & VIOLÊNCIA
O
Rolex do Huck

Por Fabiana Machado Monteiro em 16/10/2007

A celeuma em torno do artigo do Luciano Huck já beira o ridículo e mostra o
quão mesquinhas as pessoas podem se tornar diante de um fato tão banalizado nos
dias de hoje.

O apresentador, pelo pouco que conheço de sua vida particular, trabalha desde
cedo, conquistou sua fortuna com competência e talento, nunca o vimos envolvido
em escândalos ou em jornais de fofocas quentíssimas e infames, sabemos ter ele
um certo "toque de Midas" (e o que os críticos com sua revolta têm a ver com
isso?) e parece-me, certamente, que ele tem todo o direito de ter um Rolex ou um
carro de três dígitos ou o que quer que seja que desperte atenção de pessoas.

Ora bolas, o dinheiro é dele, e não de empreiteiras, falcatruas ou
mensalões… É usado para o bem estar seu e de sua jovem família e, quem sabe,
para qualquer tipo de caridade que ele, com certeza, deve fazer. Lembrando
também que sua mulher rende bons lucros, não com pensões de filhos bastardos ou
capas de Playboy oportunas, mas com trabalho, carisma e talento.

Não consigo entender o tom jocoso de algumas críticas em torno do episódio
envolvendo o roubo de seu relógio. Qualquer pessoa fica revoltada, se sentindo
traída pelas autoridades e desnuda diante da violência que lhe é acometida e
tem, sim, sentimentos diversos em relação às emoções confusas que lhe tomam o
peito.

Se isso se manifesta com raiva, pena, revolta ou descaso, é um problema de
foro particular. Algumas vítimas se escondem, outras escrevem cartas revoltadas
para os jornais, outras chamam o BOPE e outras, ainda, que têm a mídia ao seu
lado, escrevem artigos. É a forma de desabafo, é a maneira encontrada para
extravasar o que todo cidadão brasileiro tem vontade de gritar: não agüentamos
mais! Lemos diariamente artigos assim.

Vítimas famosas

Não vejo fascismo algum em querer um pouco de segurança. Não vejo onde se
encaixa defesa ao vagabundo, ladrão, desgraçado que aponta uma arma à cabeça de
um jovem pai de família para roubar um relógio, seja ele de 10 reais ou de 100
mil reais. Não importa o valor do que é roubado, o que importa é que aquele
objeto não pertence ao ladrão.

Luciano Huck não é culpado de nada. Ele é vítima. Quem de nós pode tirar dele
o direito de andar de Rolex? Quem de nós pode criticar uma pessoa que ganha
dinheiro (honestamente, diga-se) com trabalho? A não ser os invejosos do talento
e das oportunidades alheias. Esses deviam se envergonhar. Deveriam mirar sua
língua enorme, feia e invejosa para cima daqueles que envergonham o país lá em
Brasília. Deveriam saber que, um dia, o coitado do "sujeito que nunca teve
oportunidade, então teve que roubar" poderá apontar uma pistola bem no meio de
suas caras. Será que nesse momento eles vão se lembrar do capitão
Nascimento?

Em tempo, eu gostaria muito de saber a opinião de vítimas, também famosas, da
violência e que são tão igualmente veementes naquilo que dizem ou escrevem.
Artistas como Lulu Santos, Marcos Palmeira, Charles Gavin, Flora Gil. Ou mesmo
autoridades como a ministra Ellen Gracie. Pergunto se o apresentador deveria ter
um destino como o do Rodrigo Neto, dos Detonautas, para que entendam que
precisamos ter nosso patrimônio respeitado por qualquer pessoa, seja ele de um
ou um milhão de reais.

Categorias:Reflexões

Neuromarketing

NEUROMARKETING
Publicidade
investe nas neurociências

Por Marie Bénilde em 23/10/2007
Reproduzido do Monde diplomatique, edição de
novembro de 2007. Tradução de Jô Amado

Scanner les cerveaux pour vendre des marchandises

Conta a lenda que em 1919 Lênin teria feito uma visita ao fisiologista Ivan
Pavlov para saber de que maneira seus trabalhos sobre os reflexos condicionados
do cérebro poderiam contribuir para a concepção do "homem novo" que, na época,
os bolcheviques imaginavam. O sábio poderia talvez servir à propaganda do regime
associando, por meio de estímulos externos, pulsões instintivas a reflexos
automáticos de transformação coletiva. Na realidade, Pavlov em nada ajudou os
bolcheviques, mas essa história, verdadeira ou não, ilustra bem um fantasma que
existiu no século 20: o de se apossar dos espíritos através da manipulação do
inconsciente.O que permitiria pôr fim a quaisquer tipos de resistência que o
simples uso da razão crítica pode acarretar. A partir desse princípio, uma
propaganda é considerada eficiente quando uma mensagem é tão bem assimilada que
seu receptor fica psicologicamente condicionado a absorvê-la – e torná-la
sua.

As sociedades democráticas baniram de suas linguagens a palavra
propaganda, utilizada exclusivamente para poderes totalitários. No
entanto, a exploração do cérebro com finalidades mercantis – e a manipulação das
massas daí decorrente – mostram que a sociedade de consumo não está assim tão
distante. Basta lembrar a famosa frase de Patrick Le Lay, presidente da rede de
televisão francesa TF1, que, em 2004, admitiu que sua emissora se empenhava em
vender Coca-Cola "na medida em que o cérebro humano estivesse disponível". O
exemplo dessa marca, parceira privilegiada da TF1, nada deve ao acaso. No verão
de 2003, Read Montague, um neurologista da Faculdade de Medicina Baylor, em
Houston, nos Estados Unidos, demonstrou que se um teste de sabor feito de forma
aleatória fosse favorável à concorrente Pepsi Cola, o resultado seria outro se a
bebida fosse claramente identificada como sendo da Coca-Cola. Neste caso, os
participantes da experiência declaravam preferir o refrigerante com as cores
vermelha e branca.

Fez-se assim a demonstração da superioridade da marca considerada a
quinta-essência do branding, essa técnica que visa a reconhecer o nome de
um logotipo entre um máximo de suportes – e até a de se misturar com os
conteúdos (filmes, seriados). Para estabelecer a conexão entre a imagem da marca
e o estímulo do cérebro, o cientista recorreu a uma máquina que, até então, fora
somente utilizada com finalidades médicas, para detecção de tumores ou de
acidentes cerebrais, por exemplo: as imagens de ressonância magnética (IRM).
Acompanhando a atividade cerebral de seus pacientes, Montague observou que a
região precisa do cérebro que era solicitada ao ver uma marca – o córtex
pré-frontal médio – puxava pela memória e tinha um papel importante nos
processos cognitivos. Por outro lado, o teste de sabor aleatório implicava a
área cerebral conhecida como putamen ventral, vinculada à noção de
prazer. A partir de abril de 2004, a Faculdade de Medicina de Baylor organizou,
em Houston, o principal simpósio mundial dedicado às imagens neurológicas.

Três anos antes, em Atlanta, onde fica a sede da Coca-Cola Company, o
Instituto Brighthouse, fundado pelo publicitário Joe Reyman, criara um grupo de
peritos encarregados de comercializar os ensinamentos de marketing obtidos das
neurociências. Clint Kilts, seu diretor científico, chegou às mesmas conclusões
que seu colega de Houston, localizando no córtex pré-frontal médio a zona
cerebral que reagia às imagens publicitárias. Mas observou que essa reação era
mais significativa quando o sujeito se identificava com a imagem do produto,
quando era levado a dizer: "Sou eu, sem tirar nem pôr ["There Is a Sucker born
in every medial prefrontal cortex", The New York Times Magazine, 26 de
outubro de 2003]." A famosa região-chave do neuromarketing, na realidade, é
associada à imagem de si mesmo e ao conhecimento íntimo que se tem de si mesmo
(pacientes que sofrem algum tipo de lesão no córtex pré-frontal médio – após um
acidente, por exemplo – passam, muitas vezes, por desordens de personalidade).
Como explica Annette Schäfer, na revista Cerveau et Psycho, "Eis aqui o
motor do comércio. Este córtex pré-frontal médio faz com que gostemos daquilo
que os outros gostam. Conseguir estimulá-lo, portanto, poderia ser um dos
principais objetivos de uma campanha publicitária perfeita ["Vous avez dit
neuromarketing?", Cerveau et Psycho n°7, setembro-novembro de 2004"]. E
também é, para os neuromarqueteiros, o ouro branco de uma alquimia perfeita: a
operação que consiste em transformar seu amor por si próprio – o narcisismo – no
amor de si próprio por outro: um alvo publicitário.

Segundo Olivier Ouiller, pesquisador em neurociências da Universidade
Atlantic, na Flórida, existe atualmente uma centena de empresas no mundo que
utilizam as técnicas do neuromarketing [Journal du Net, "Neuromarketing: les
bases d’une discipline nouvelle", 20.02.2007, www.journaldunet.com]. Entretanto, são
muito discretas em relação às experiências realizadas devido ao receio de
provocarem uma onda de indignação junto à opinião pública. Em 2003, por exemplo,
uma delas, a Daimler Chrysler, confiou ao centro hospitalar de Ulm, na Alemanha,
a responsabilidade de escanear cérebros, submetendo a uma dúzia de homens as
imagens dos carros mais caros.

Foi então que surgiu a importância do "nódulo accumbens", zona do cérebro
vinculada ao sentimento de recompensa. Concluiu-se que o objeto de consumo pode
ser assimilado a um objeto de desejo por meio de um autêntico processo de
personificação. "Quando eles olhavam os carros, aquilo lhes lembrava rostos, com
os faróis parecendo um pouco os olhos", descreve Henrik Walter, psiquiatra da
Universidade de Ulm, a respeito desses "pacientes" de um gênero pouco particular
[The New York Times Magazine, op. cit.]. Os publicitários
identificaram na experiência a confirmação de uma intuição: deve-se reforçar,
nos spots, a correlação instintiva entre desejo sexual e pulsão de
consumo. "O consumidor deve poder sentir a marca, agarrar-se a ela como um
amante", afirma, sem rir, Kevin Roberts, diretor-presidente da agência Saatchi
& Saatchi [Stratégies, 11 de novembro de 2004].

Deveria ser levado a sério esse tipo de experiências que visam a dar valor
científico à publicidade? Na opinião dos profissionais, o fato é que elas têm o
mérito de alertar ainda mais para a difusão de mensagens publicitárias pela
mídia, principalmente quando é possível, pela internet, de clique em clique
acompanhar o perfil de comportamento do consumidor. Portanto, o neuromarketing
nasce do encontro de interesses entre industriais, preocupados em legitimar seus
investimentos em comunicação, agências de publicidade, desejosas de valorizar
sua contribuição (a agência BBDO, de Düsseldorf, por exemplo, trabalha com o
conceito de brainbranding, que pretende determinar como algumas marcas
penetram na memória episódica do cérebro), e as grandes empresas de mídia,
preocupadas com o crescimento galopante dosa novos vetores de comunicação.

A TF1 ainda não realizou experiências de laboratório com base no
scanner. Mas o Sindicato Nacional de Publicidade na Televisão, presidido
pela sra. Claude Cohen – que também é presidente da agência TF1 Publicité – vem
manifestando interesse no que denomina "mecanismos não-conscientes da memória".
Com apoio do instituto privado Impact Mémoire, empenhado em utilizar "técnicas
de imagens funcionais do cérebro", o sindicato realizou, por exemplo, uma
experiência com 120 pessoas sob o pretexto de testar sua vivacidade visual.
Enquanto as cobaias se dedicavam a preencher quadradinhos verdes nas telas de
seus computadores, eram divulgados, de maneira intermitente, anúncios num
monitor bastante visível. Paralelamente, a mesma experiência foi feita com
locutores esportivos, por rádio, e com mais anúncios.

Obviamente, é o meio que associa o som e a imagem que obtém melhor pontuação
na memorização inconsciente das mensagens publicitárias. Um teste que se poderia
considerar primário, se não fosse associado a um discurso pseudo-científico
carregado de conseqüências. Em novembro de 2003, durante uma "Semana da
Publicidade", Bruno Poyet, co-fundador do instituto Impact Mémoire, fez um
resumo dos objetivos: "É necessária atenção para uma boa retenção mnemônica.
Ora, uma conotação emocional forte acentua a atenção. Uma carga emocional
importante provoca a secreção de certas substâncias pela amígdala que ajudam a
memorização [Ver o site da Association des agences conseil en communication www.aacc.fr]."

É esse contexto "emocional" – propício à publicidade destinada a donas de
casa com menos de 50 anos de idade – que a TF1 tenta elaborar através de seus
programas. Ainda em novembro de 2003, a rede divulgava, na imprensa
especializada, um anúncio em que se vangloriava de seus "túneis publicitários",
no qual aparecia a imagem de um cérebro no meio de um monitor de vídeo,
acompanhada por um comentário eloqüente: "Uma tela colocada no meio de um
programa da TF1 obtém 23% de memorização suplementar." O neurologista Bernard
Croisile, outro co-fundador do instituto Impact Mémoire, lembra que "se não
existe estudo algum que permita provar que o conteúdo de um programa condiciona
a resposta aos comerciais que se seguirão, […] o que se pode dizer é que
quando a pessoa está numa situação emocionalmente positiva, ela irá reter melhor
os elementos positivos, enquanto uma situação depressiva irá melhor assimilar as
informações negativas [Stratégies, 7 de outubro de 2004]". Trata-se,
portanto, de oferecer ao telespectador sua dose de uma emoção agradável – antes
de um espetáculo de pura diversão ou após um noticiário em que prevalece a carga
emocional da experiência vivida –, e não o enredo depressivo de um discurso
crítico.

A presença das neurociências – ou de suas mutações – nas indústrias da
publicidade é, portanto, promissora. Em março de 2007, a líder mundial de
publicidade, Omnicom, lançou, na França, a agência de consultoria de mídia PHD.
Essa rede, criada na Grã-Bretanha, apóia-se num software de
neuroplanning, desenvolvido, graças às imagens de ressonância magnética
(IRM), pela empresa Neurosense. O objetivo é mostrar às marcas as zonas do
cérebro a serem estimuladas em função das finalidades de suas campanhas e do
tipo de mídia utilizado. O instituto Impact Mémoire, por seu lado, interveio,
também este ano, junto ao departamento de publicidade do grupo Lagardère, para
permitir aos anunciantes otimizar a memorização de suas campanhas em função da
combinação de vários tipos de mídia e da repetição das mensagens.

O conhecimento íntimo do cérebro do consumidor não pode senão incitar as
empresas – e seus agentes publicitários – a evitar os espaços que lhes são
normalmente destinados para se comunicar. Na realidade, as condições de
receptividade de uma marca são consideradas as melhores quando o "alvo" não está
consciente de estar sendo visado. É isso que explica o sucesso do
advertainment, essa interseção híbrida de publicidade e entretenimento,
da qual se viu um exemplo recente durante o jogo entre França e Argentina por
ocasião da Copa do Mundo de Rúgbi. Jovens modelos, vestindo apenas roupa de
baixo, puseram-se a dançar nos degraus da arquibancada sob o olhar atento das
câmeras da TF1: tratava-se de uma "criação" da agência de publicidade Fred-Farid
Lambert, afiliada ao grupo Bolloré, para a marca Dim.

Na criação audiovisual, a colocação de produtos no centro dos conteúdos
também faz sucesso, como prova o surgimento de contratos globais vinculando
produtores, difusores e anunciantes. Em 2001, o conglomerado da água sanitária
Procter & Gamble fechou um acordo de 500 milhões de dólares com o grupo
Viacom e sua rede CBS para introduzir seus produtos nos roteiros. Quatro anos
depois, foi a vez da Volkswagen investir 200 milhões de dólares para colocar
seus veículos nos filmes dos estúdios Universal e no canal NBC, do mesmo grupo.
Em 2005, a filial francesa da central de compras Aegis também criou o Carat
Sponsorship Entrainment, para canalizar a publicidade inerente aos programas e
fazer com que fosse melhor aceitada pelo consumidor. Foi imitada, em 2007, pela
filial Havas Entertainment.

Se o Conselho Superior do Audiovisual ainda se sente tentado a banir a
publicidade clandestina na televisão, a transposição da recomendação européia
Télévisions sans frontière, prevista para 2008, promete autorizar, em caráter
definitivo, a colocação de produtos na telinha, como nos Estados Unidos. O
limite diário de doze minutos de publicidade para cada hora deveria, na mesma
ocasião, ser flexibilizado, de forma a permitir a difusão de mais espaço
publicitário durante os períodos de maior audiência. Paralelamente, surgem
programas como Question Maison (France 5) e Du Côté de chez vous
(TF1), que só devem sua existência à chegada da marca Leroy Merlin à produção
dos conteúdos. É evidente que o inconsciente do telespectador não é abertamente
reivindicado. Mas, para além do telespectador, é ainda e sempre o consumidor que
é visado. Para estimular os reflexos automáticos pavlovianos de transformação
coletiva? Não, é a resposta: trata-se apenas de uma simulação de
vendas…

Categorias:Organizações

Greve em Hollywood

HOLLYWOOD
Descontentes com
contrato, roteiristas ameaçam greve

em 23/10/2007

Votação realizada na semana passada entre mais de cinco mil membros do
Writers Guild of America, sindicato de roteiristas de cinema e televisão de
Hollywood, decidiu, com 90% dos votos, pela autorização de uma greve assim que
seus contratos expirarem, no fim do mês.

Desde julho, o sindicato discute, sem sucesso, com companhias de produção de
TV e estúdios cinematográficos – representados pela Alliance of Motion Picture
and Television Producers – sobre os contratos dos roteiristas. Como as partes
não chegaram a um acordo, a votação do sindicato autoriza o início de uma
paralisação depois do dia 31/10, quando termina o contrato de três anos dos
profissionais. Um dos pontos cruciais de desentendimento entre estúdios e
roteiristas diz respeito ao pagamento extra por vendas de DVDs e produções
distribuídas na internet e em outros formatos das chamadas novas mídias.

Estoque de roteiros

"Os roteiristas não querem fazer greve, mas eles estão determinados e
preparados para tomar uma ação forte e unida em defesa de seus interesses",
afirmou o presidente do sindicato, Patric Verrone. "Precisamos ter um contrato
que corresponda ao sucesso financeiro desta indústria global sempre em
expansão".

Nick Counter, presidente da associação de estúdios de cinema e produtores de
TV, afirmou não ter ficado surpreso com a votação. Estúdios e emissoras já
aceleraram o processo de filmagem de programas e longas para o caso de uma
greve, e também passaram a estocar um suprimento de roteiros. Em 1988, uma
paralisação dos roteiristas durou 22 semanas e levou a perdas de US$ 500 milhões
na indústria. Informações da AP [20/10/07].

Categorias:Entretenimento

Imagem da Polêmica

REDE GLOBO
O
Fantástico e o estranho episódio na favela Coréia

Por Mário Augusto Jakobskind em 23/10/2007

O Fantástico, da TV Globo, apresentou no último domingo (21/10)
matéria insinuando que supostos traficantes que foram mortos durante ação
policial na favela Coréia estariam armados. Um deles, segundo a imagem
congelada, estaria portando uma espingarda – outro, um revólver. Em seguida, a
reportagem apresentava o desenho, feito por uma criança, sobre a violência
ocorrida naquele local. O desenho – algo incomum, quando se trata de criança –
não apresentava assinatura; era, portanto, apócrifo. Geralmente, a mesma TV
Globo sempre fez questão de dizer que não publica nada apócrifo. Desta vez abriu
uma exceção…

Mas o fato principal da reportagem merece uma análise mais aprofundada. Se a
TV Globo imagina que esclareceu a ocorrência – ou seja, de que os supostos
traficantes que trocavam fogo com a polícia portavam armas ou não –, enganou-se
redondamente. Ao contrário, deixou mais dúvidas e até insinuações, em nada
abonadoras para a emissora de maior audiência do país.

Qualquer editor de audiovisual sabe perfeitamente que imagem congelada pode
ser aproximada. Aliás, qualquer criancinha que lide com programas gráficos sabe
fazer este procedimento, sem necessidade de qualquer técnica ou conhecimento
especial. A meninada que está na onda, por sinal, lida com isso com a maior
naturalidade. O que dizer, então, dos editores da TV Globo com seus equipamentos
de última geração?

"Normalidade" necessária

Então, por que a TV Globo não fez o procedimento de aproximar a imagem que
poderia acabar com a dúvida? Neste caso, da forma como foi apresentada, dá
margem ao telespectador um pouquinho mais exigente de ficar com a pulga atrás da
orelha. Os mais críticos poderão afirmar até que se a TV Globo fizesse a
aproximação da imagem confirmaria em cem por cento que os referidos fugitivos,
narcotraficantes ou não, foram sumariamente fuzilados pelos tiros partidos do
helicóptero. E que o papel da polícia não é esse.

A reportagem apresentada no Fantástico se esforçava em absolver a
polícia das acusações de entidades ilibadas como a ONG Justiça Global e a Ordem
dos Advogados do Brasil, seção fluminense, de que houve um fuzilamento sumário,
procedimento que vem sendo aplaudido pela classe média gênero senso comum, que
se deixa levar pelo pânico, muitas vezes deliberadamente pré-fabricado.

A história do que aconteceu na Favela Coréia está muito mal contada. A
insuspeita colunista social Hildegard Angel observou no Jornal do Brasil:
"Vamos ao que eu achei daquele tiroteio covarde do alto de um helicóptero, sobre
homens indefesos correndo desarmados morro abaixo. Quem me garante que eles
eram, efetivamente, traficantes? Quem garantiu aos do helicóptero que eles não
eram moradores da favela correndo dos tiros, apavorados, como você correria se
naquele momento estivesse em lugar errado?"

Além das dúvidas, a reportagem do Fantástico, deficiente por si só, na
prática tentava convencer o telespectador de que o acontecido na favela Coréia
faz parte de uma normalidade necessária para combater a delinqüência, como quer
o governador Sérgio Cabral e o seu secretário de Segurança, o gaúcho José
Mariano Beltrame.

Resultados inócuos

Equivoca-se a TV Globo, e de um modo geral a mídia conservadora, ao cobrir
fatos desta natureza geralmente sem qualquer tipo de questionamento. Os números
falam por si só e valem mais do que qualquer adjetivo. Um dia antes da incursão
policial na favela Coréia, o Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de
Janeiro divulgava um novo recorde de execuções policiais: no primeiro semestre
de 2007, as polícias civil e militar mataram 694 suspeitos de delinqüência, 94 a
mais do que todas as execuções realizadas em 2002, quando esse tipo de
"solução", adotado pelo esquema Sérgio Cabral para o problema da violência
urbana, foi colocado em prática pelo então governador Garotinho.

Ou seja, a estratégia de confronto adotado com maior ênfase por Cabral não é
nova e demonstra, na prática, ser totalmente ineficiente. A violência urbana
diminuiu ou aumentou com a política de confronto? A resposta não é difícil.

Outro fato que não está sendo lembrado pela TV Globo, a mesma emissora que no
governo Leonel Brizola atribuiu a este governador a culpa pela violência no Rio
de Janeiro: é que na primeira e na segunda gestão de Brizola foram proibidos os
vôos de helicópteros da polícia no espaço aéreo das favelas. O motivo alegado
era exatamente o de evitar confrontos que pusessem em risco não apenas as vidas
dos próprios policiais nos helicópteros, como, principalmente, dos moradores
destas áreas, onde em sua maioria vivem trabalhadores de baixo poder aquisitivo.
Agora, com Cabral e mesmo com outros governadores, como Marcelo Alencar,
Garotinho e Rosinha, esta prática voltou e virou uma rotina, cujos resultados,
vale repetir, são inócuos.

Filmando de dentro do caveirão

Neste turbilhão sangrento, a diretoria do Sindicato dos Jornalistas
Profissionais do Município do Rio de Janeiro queima a imagem da própria
categoria ao incentivar e aplaudir a realização de um curso de segurança para
"cobertura jornalística em área de risco", ministrado por um instrutor militar
com experiência no Afeganistão e Iraque. O Globo também aplaudiu a
iniciativa conjunta do sindicato dos jornalistas e dos sindicatos patronais de
jornais, rádios e TVs.

Ou seja, a diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município
do Rio de Janeiro, em vez de questionar a política de criminalização dos pobres
que vem sendo incentivada pela mídia conservadora, embarca numa estratégia
totalmente equivocada para supostamente proteger os jornalistas que fazem
reportagens em áreas consideradas de risco. Não era isso que se esperava de uma
diretoria de um sindicato.

Cursos desta natureza, ainda por cima ministrados por instrutor militar que
não se identifica – segundo O Globo, por "questão de segurança" –, dão,
no mínimo, para desconfiar. É estranho que um sindicato de jornalistas promova
cursos desta natureza em vez de questionar a estratégia da mídia conservadora
que estimula a corrida desenfreada atrás da audiência e de vendas promovidas por
algumas publicações que correm atrás do lucro fácil.

Não seria, isto sim, o momento do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do
Município do Rio de Janeiro investigar de que forma repórteres estão cobrindo os
acontecimentos em áreas de risco, alguns deles, segundo denúncias, até filmando
ou tirando fotos de cenas de violência a partir do interior do caveirão, o
veículo blindado utilizado pela polícia em áreas carentes e que atemoriza os
moradores de aéreas pobres do Rio de Janeiro?

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Adesismo

CASO CISCO
A mídia cobre
mal o crime corporativo

Por Luciano Martins Costa em 23/10/2007

O escândalo envolvendo a multinacional de informática Cisco Systems é mais um
exemplo de como o jornalismo de negócios e o jornalismo econômico andam
distantes dos novos paradigmas do capitalismo. Em um mundo agitado por mudanças,
com a premência de processos de produção limpos, responsabilidade social
empresarial e transparência na gestão, a imprensa ainda segue antigos padrões,
avaliando as companhias quase unicamente por seus resultados financeiros,
posicionamento no mercado e inovação tecnológica.

O próprio noticiário relativo aos crimes de que são acusados dirigentes da
Cisco deixa de lado elementos importantes do contexto em que se deu a
investigação da Polícia e da Receita Federal, que se referem ao sistema de
importação e distribuição de produtos de informática na chamada periferia da
economia global. A utilização dos chamados "canais" – nome pelo qual são
chamados os revendedores de produtos de alta tecnologia – há muito deveria estar
atraindo a atenção da imprensa, pela extrema vulnerabilidade do sistema ao risco
de fraudes.

Os grandes jornais e, especialmente, as publicações especializadas em
Tecnologia da Informação, mantêm repórteres quase setorizados nessa área da
economia, que cresce exponencialmente e também empurra outros setores, como o de
telecomunicações e o de automação industrial. No entanto, a maioria desses
jornalistas não recebe capacitação para desenvolver uma visão sistêmica dos
negócios que devem cobrir. Quase sempre, o noticiário se refere a novidades
tecnológicas, grandes negócios e mudanças nos rankings.

Perversidades da globalização

Em suas comunicações institucionais, quando se dirigem diretamente ao
mercado, as empresas de tecnologia procuram ressaltar aspectos relacionados aos
novos paradigmas do sistema global de negócios, que destacam a necessidade de
padrões éticos na concorrência, esforços pela inclusão social e busca incessante
de produtos ecoeficientes. Mas, na mediação dos fatos de negócios, a imprensa
ignora esse tipo de notícia, por considerar que não é bom jornalismo oferecer
informações favoráveis às companhias. No entanto, não demonstra qualquer
constrangimento em reproduzir de forma laudatória dados de balanços e
declarações sobre os sucessos financeiros das mesmas empresas.

Seria razoável esperar que, não se dispondo a noticiar informações sobre bons
procedimentos das empresas nos aspectos ambiental, social e ético, a mídia
cuidasse, ao contrário, de abordar as vulnerabilidades do ambiente de negócios
quanto a desperdício de energia, irresponsabilidade social e outras práticas
negativas, como concorrência desleal e risco de fraudes.

Assim como não tem disposição ou habilitação para esse tipo de cobertura, a
imprensa também revelou não possuir recursos para ir além do que liberam as
autoridades policiais, no presente escândalo. A cobertura não informa aspectos
relevantes do esquema criminoso revelado pela Polícia Federal e pelo Ministério
Público que ajudariam o leitor a entender certas perversidades do sistema
econômico globalizado.

A constatação do observador é que a imprensa, sempre animada para desvendar a
delinqüência de indivíduos e a corrupção nas instituições públicas, não sabe e
não quer saber como cobrir o crime corporativo.

Deslumbramento e poder

No caso da Cisco, a demissão inesperada de um alto executivo, ocorrida há
cerca de um ano, foi noticiada burocraticamente pela imprensa especializada,
embora muitos jornalistas comentassem sua estranheza sobre o fato. Este
executivo foi posteriormente vítima de boatos maledicentes no meio jornalístico,
mas nem mesmo os blogs se dispuseram a investigar as razões de sua demissão.
Estava ali, provavelmente, um fio da meada que conduziria ao escândalo. Esse
executivo, cujo nome não consta na lista de dirigentes da Cisco presos e
indiciados, pode ser um dos informantes das autoridades. Poderia ter sido a
fonte de jornalistas, se houvesse disposição e recursos para o jornalismo
investigativo.

Uma diversidade maior de informações está disponível em outras fontes, como
os sites e blogs ultra-especializados, como gigaom (www.gigaom.com), onde se pode obter, por
exemplo, o depoimento de um ex-funcionário da Cisco e de outras pessoas do ramo,
e revelações sobre como os sistemas de importação e venda de produtos de
informática são passíveis de defraudações.

Assim como um certo deslumbramento com a tecnologia parece cegar a mídia, o
inegável encantamento com o poder das empresas produz a adesão irrestrita de não
poucos jornalistas ao universo de interesses relativos ao capital. Essa parece
ser uma das razões pelas quais a imprensa não se mostra capaz de fazer a crítica
do sistema, nem mesmo quando o sistema, por si, gera novos paradigmas e enfrenta
o desafio de ter que buscar a sustentabilidade.

Categorias:Organizações

Números fantasiosos

JORNALISMO ESPORTIVO
Mídia
"empurra" números fantasiosos

Por Antonio Carlos Teixeira em 23/10/2007

Nos últimos dias, o assunto da vez nos sites esportivos, blogs e grupos de
discusão pela internet ou e-mail foi um só: a pesquisa CNT/Sensus sobre as
maiores torcidas do Brasil. Pode-se afirmar, com segurança, que os números
absolutos estão inflados em pelo menos dois terços. Talvez não por culpa do
instituto que os elaborou, mas, principalmente, pela falta de zelo de parte da
mídia esportiva ao divulgá-los.

Os menos atentos acabam chegando à conclusão de que o Flamengo, por exemplo,
tem hoje 26,928 milhões de torcedores, o equivalente a 14,4% da população
brasileira, de 187 milhões, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatísticas). Por essa avaliação, o Corinthians, o segundo colocado, com 10,5%
da preferência dos brasileiros, teria 19,635 milhões de torcedores. Pura
fantasia. Ocorre que não se leu nem se ouviu qualquer questionamento sobre essa
contagem absurda. Os percentuais, até prova em contrário, devem estar corretos;
os números absolutos jamais.

Tal qual na polêmica do milésimo gol de Romário, a mídia esportiva
silenciou-se. Teria sido extremamente válido que os dados divulgados pelo
CNT/Sensus fossem dissecados para que nos aproximassem um pouco mais da verdade.
Revirei a internet, assisti a programas de TV e ouvi outros tantos de rádio. Mas
nada. Pode ser que um ou outro jornal, rádio, site na internet ou TV tenha feito
essa ponderação. Mas, no geral, as notícias seguiram na mesma linha, o de que o
time de maior torcida chega a ter 30 milhões aficionados.

Deu vazão a discussões intermináveis nos fóruns e chat na Web. Flameguistas e
corintianos, por exemplo, brigando entre si. Os primeiros dizendo que seu time
tem mais de 30 milhões de torcedores; os outros garantindo que o seu se aproxima
da quantidade do rival. E tome exageros.

59 milhões de torcedores, no máximo

Sabe-se que é impossível que os 187 milhões de brasileiros gostem de futebol.
Pior: é fato que apenas 10% das mulheres torcem para algum time. Elas são
maioria no país, com 97,24 milhões, contra 89,76 milhões de homens. De cara, já
podemos excluir da contagem mais de 87 milhões de brasileiros do sexo feminino.

O IBGE também traz o número dos brasileirinhos entre 0 e 9 anos. Temos 30,8
milhões de crianças nessa faixa de idade, as quais não entram nas estatísticas
do futebol ou nunca respondem a pesquisas de opinião, por questão óbvia. Bem,
somando-se o número de mulheres que dão de ombro ao futebol e as crianças entre
0 e 9 anos, teríamos 128 milhões de pessoas que não têm time de futebol.

Nesse caso, o Brasil teria apenas 59 milhões de "amantes do futebol". O
discurso de que temos 187 milhões de técnicos de futebol não passa, claro, de
lugar-comum, chavão, clichê. E, entre esses 59 milhões de torcedores, há os
simpatizantes – aqueles que nunca assistem a jogo de futebol, não fazem questão
alguma de ter camisa ou acessório de clube.

Mas, para não radicalizar, adotemos o número de 59 milhões para começarmos a
debater com um pouco mais de coerência os dados da pesquisa. Nesse caso, se os
percentuais aferidos estiverem corretos, haveria 8,496 milhões de flamenguistas,
de fato a maior torcida do país. Seguidos de 6,195 milhões de corintianos, 4,720
milhões de são-paulinos (8%), 4,248 milhões de palmeirenses (7,2%), 3 milhões de
vascaínos (5%), 2,301 milhões gremistas (3,9%) e 2,183 milhões de santistas
(3,7%).

Mas sejamos menos rigorosos. Vamos incluir nas nossas estatísticas as cerca
de 30 milhões de crianças entre 0 e 9 anos, o que eleva o número dos que torcem
por algum time de futebol para cerca de 90 milhões. Com isso, a quantidade de
flamenguistas chegaria a 13 milhões, a de corintianos, 9,5 milhões, e os
são-paulinos seriam 7,2 milhões. Teríamos ainda 6,48 milhões de palmeirenses,
4,5 milhões de vascaínos, 3,5 milhões de gremistas e 3,33 milhões de
santistas.

A pesquisa CNT/Census, contudo, traz observação que, diferentemente do que
tem sido divulgado por jornalistas menos comprometidos com a verdade,
aproxima-se um pouco da nossa avaliação. De acordo com o levantamento, 28,4% dos
pesquisados afirmam não torcer por nenhum time de futebol. Entre os
entrevistados, 15,4% afirmam gostar "mais ou menos" do esporte, enquanto outros
51,9% dizem gostar. Pior: das pessoas ouvidas, 32% dizem não gostar de
futebol.

Na verdade, os institutos de pesquisas fazem os levantamentos e os negociam
com alguma entidade ou veículo de comunicação. A mídia – que os usa para vender
mais jornal ou aumentar a audiência, o que é legítimo – os divulga sem qualquer
contraponto, ou questionamento. O dever de informar, com precisão, passou ao
largo nessa questão.

E, assim, o público amante do futebol vai se alimentando de números e dados
mentirosos, a ponto de haver cartola dizendo por aí que, "num futuro próximo",
seu clube atingirá 30 milhões de torcedores; outros garantindo que chegarão a 25
milhões, 20 milhões. E nós, como leitores, ouvintes e telespectadores, somos
obrigados a engoli-los sem água.

Categorias:Jogos

Celular dos Sonhos

JORNALISMO MÓVEL
Reuters e
Nokia projetam celular para repórteres

em 25/10/2007

A Reuters e o Centro de Pesquisa Nokia anunciaram esta semana que trabalham
em conjunto em um projeto para possibilitar que jornalistas produzam e publiquem
matérias e conteúdo multimídia diretamente de telefones celulares, noticia
Caroline McCarthy [Reuters, 23/10/07]. A iniciativa, chamada de Reuters Mobile Journalism,
baseia-se na possibilidade de conectar equipamentos – como teclado, tripé e
microfone – ao Nokia N95.

O celular contará ainda com programas para editar de forma integrada textos,
imagens e vídeos. "Os aparelhos portáteis leves, em vez de laptops, permitem a
produção de matérias e sua publicação imediata, sem que o jornalista tenha que
deixar o local da apuração", explica Nic Fulton, pesquisador-chefe da Reuters
Media. "Isto economiza tempo e traz benefícios para nosso público, ao
garantirmos que ele receba informações de qualidade em tempo real".

A Reuters já realizou testes de jornalismo móvel em situações variadas, desde
a campanha dos pré-candidatos à presidência dos EUA até a Semana de Moda de Nova
York. O objetivo principal é disponibilizar os equipamentos para jornalistas
profissionais, mas um grupo de estudantes universitários também vem testando os
aparelhos para que seja avaliado se eles seriam bem aceitos no nicho de
jornalistas-cidadãos.

Rede Livre

LIBERDADE NA REDE
Comitê
americano aprova projeto contra censura online

em 25/10/2007

O Comitê para Assuntos Exteriores da Câmara dos Representantes dos EUA
aprovou, em votação na terça-feira (23/10), uma nova versão do Global Online
Freedom Act. O projeto de lei, bipartidário, foi elaborado em fevereiro de 2006
pelo senador republicano Christopher Smith e objetiva evitar que empresas de
tecnologia americanas sejam obrigadas a colaborar com governos repressivos no
exterior. A proposta ainda deverá ser aprovada pelo Comitê de Energia e Comércio
da Câmara dos Representantes e pelo Senado.

"É um grande avanço para a liberdade de expressão online. Pelo menos quatro
ciberdissidentes foram condenados e presos por causa de informações fornecidas
pela companhia americana Yahoo! às autoridades chinesas. A cooperação de
empresas de internet americanas com governos repressivos contradiz a natureza da
internet e facilita o trabalho dos censores", declarou a organização Repórteres
Sem Fronteiras diante do resultado da votação.

Se aprovado, o Global Online Freedom Act ajudaria a evitar que governos que
costumam punir dissidentes políticos e ativistas dos direitos humanos por se
expressar na rede tenham acesso a dados pessoais dos internautas. O projeto
proíbe que provedores de internet americanos forneçam informações que levem à
identificação de seus usuários – exceto em caso de aplicação legítima da lei. As
empresas seriam obrigadas a se desfazer de mensagens eletrônicas contendo
"informações pessoais" em seus servidores e a fornecer ao Departamento de Estado
americano dados sobre todos os sítios que foram filtrados ou bloqueados a pedido
de algum governo estrangeiro. Companhias que violarem as regras podem enfrentar
multas de US$ 2 milhões.

Regras do jogo

Companhias americanas como Yahoo!, Google e Microsoft são criticadas de
tempos em tempos por concordar com "as regras do jogo" do governo chinês para
poder atuar no promissor mercado de internet do país. A Cisco Systems também já
foi acusada de fornecer para a China tecnologia para censurar sítios.

Um representante do Yahoo! deverá se apresentar ao Congresso no início de
novembro por alegações de que teria mentido em um depoimento de fevereiro de
2006. Na ocasião, ele afirmou que a companhia, ao entregar ao governo chinês
informações sobre o jornalista Shi Tao, não tinha idéia sobre o conteúdo da
investigação. Tao foi detido e condenado a 10 anos de prisão, acusado de vazar
segredos de Estado por e-mail. Entretanto, um documento divulgado pela
organização de direitos humanos Dui Hua parece provar que a empresa sabia das
intenções governamentais ao colaborar com as autoridades chinesas.

"A lei é necessária porque a internet deve ser uma ferramenta para o bem e
que ajude a promover os valores americanos", afirma o deputado republicano Tom
Lantos, presidente do Comitê para Assuntos Exteriores da Câmara. "Os ativistas
ficam em um jogo de gato e rato com a polícia, abrindo novos sítios quando os
antigos são fechados. Neste jogo, as empresas americanas deveriam agir como o
governo americano, ou seja, ficar do lado daqueles que promovem a liberdade, e
não com a polícia que quer calar os dissidentes e as mensagens da democracia".
Informações de Anne Broache [CNET, 23/10/07] e dos Repórteres Sem Fronteiras
[23/10/07].

Copa do Caos

Copa no Brasil poderia ser "caos", diz Financial Times

Uma reportagem do jornal Financial Times
diz que a realização da Copa do Mundo no Brasil poderia ser um “caos”, por conta
da corrupção e da falta de infra-estrutura do país.  Em texto intitulado
“Futebol poderia voltar para casa e para o caos” (tradução livre), o FT levanta
ressalvas ao desejo do Brasil de receber novamente, depois de 64 anos, o maior
evento mundial do esporte.

“Dezoito cidades em todo o Brasil se esforçam
para estar entre as 12 que sediarão os jogos”, diz a reportagem de meia-página,
em um trecho destacado. “Nenhuma delas tem um estádio que faça jus à tarefa.”
Sob uma foto em que o meia Kaká e o atacante Robinho comemoram um gol, lê-se a
legenda: “Má combinação: Reputação do Brasil para jogadores estelares é corroída
por infra-estrutura precária e corrupção”.

O jornal levanta dúvidas sobre
a capacidade brasileira de garantir a segurança em todo o país. Durante os Jogos
Panamericanos, isto só foi possível no Rio de Janeiro “graças ao policiamento
ostensivo e à presença de policiais nas ruas”, afirma o texto.

Além
disso, a análise das contas de algumas obras do Pan revelou superfaturamento de
até 10 vezes o valor da construção, e os jogos não geraram as prometidas
melhorias no sistema de transporte e limpeza públicos, apontou o
FT.

Outro fator preocupante seria a infra-estrutura de transporte aéreo
no Brasil, que poderia complicar as viagens internas de visitantes que quiserem
assistir aos jogos em diversas partes do país. “Entretanto, a Copa do Mundo
ainda está longe. Até 2014, pode ser que o Brasil tenha resolvido alguns de seus
problemas mais graves”, diz o jornal.

Ouvido pelo Financial Times, o
comentarista Juca Kfouri disse que “se a África do Sul pode sediar a próxima
Copa, o Brasil também pode”.

Categorias:Jogos

Da Série: Notícias que não precisávamos saber… MESMO!!!

Playboy alemão processa jovem que se recusou a dormir com ele
Agência Ansa

O businessman Rulf Eden, de 77 anos, conhecido como o “último playboy da
Alemanha”, decidiu processar uma jovem de 19 anos depois que ela se recusou a
ter relações sexuais com ele. Eden alega que se trata de “preconceito contra os
idosos”.

Segundo o tablóide alemão Bild Zeitung, Eden recorreu aos
tribunais porque, a despeito da noite que passaram juntos em Berlim, a jovem
teria se recusado a ter relações sexuais alegando que ele era velho demais para
ela. “Foi devastador. Nunca uma mulher me disse coisa semelhante”, afirmou Eden
ao tablóide alemão Bild Zeitung. “Além disso, existem leis contra a
discriminação”.

Segundo aponta revista semanal alemã Der Spiegel, o
antigo rei da noite berlinense, consagrado como dono de boates na capital alemã
nas décadas de 50 e 60, já tinha causado alvoroço em 2002 ao afirmar que
gostaria de morrer como veio ao mundo: “com uma mulher”.

Mas, a julgar
pela sua última relação, Eden terá que rever seus sonhos. Mesmo depois do
champanhe caro e do piano, acompanhados da experiência de quem alega já ter
dormido com mais de duas mil mulheres na vida, a jovem berlinense manteve a
negativa.

“Existem alguns anos de diferença entre nós”, admitiu o
playboy. “E também existem mulheres que são muito velhas para mim. Mas nesses
casos você deve ser mais diplomático e dizer: desculpe, você não faz meu tipo”.

Categorias:Pense Direito

VicianTV

Tão viciante quanto ver televisão é colecionar na memória as
curiosidades que todos os anos são renovadas no Guinness World of Records
(Ediouro). A edição 2008 traz dois capítulos que unem as duas manias – recordes
e televisão. A seguir divirta-se com alguns deles:  

– "Desperate Housewives" está no livro com três
recordes: é a série dramática de TV mais vendida (com o maior acordo de
licenciamento) do mundo. O programa está em 203 territórios. O programa também
foi a série dramática mais assistida da história da Austrália. Além disso, é o
programa com mais refilmagens simultâneas em outras línguas – há versões no
Brasil, Equador, Colômbia, Argentina, entre outras.

– "Doctor Who", que passa aqui no People+Arts, é a
série de ficção científica há mais tempo no ar atualmente, com 749 episódios,
numerosos especiais e duas séries derivadas. Já passaram pelo programa dez
doutores. 

– O "Miss Mundo" é o mais antigo concurso de
beleza da TV. Foi criado em 1951 por Eric Morley como um concurso de biquínis.
Em 2004, 107 mulheres participaram da competição, um recorde.

– "CSI: Miami", por incrível que pareça, é listada
no "Guinness" como a série mais vista em 2006 em todo o mundo,
segundo um estudo da Informa Telecoms & Media feito em 20 países.
"Lost" está em segundo lugar, seguido por "Desperate
housewives".  

– O Guinness fez ainda uma lista dos personagens mais ricos
de TV. São eles: Jeff Tracy, dos "Thunderbirds"; Senhor Burns,
"The Simpsons"; Riquinho, "Riquinho". Também estão na lista
Lex Luthor, de "Lois & Clark" e "Smallville"; Gomez
Addams, da "Família Addams"; e J.R. Ewing, de "Dallas".

– Os atores mais bem pagos da TV, atualmente, são Kiefer
Sutherland (40 milhões de dólares para fazer três temporadas de "24
horas") e Mariska Hargitay, que ganha 330 mil dólares por episódio em
"Law & Order – vítimas especiais".

Categorias:Entretenimento

Lullices e afins

Enviado por Ricardo Noblat – 29.10.2007 | 9h04m

Lula, o retorno

Era só o que faltava. Queriam o quê? Que Lula admitisse desde já sua intenção
de governar o país pela terceira vez – a partir de 2011 ou de 2015? Ou que
calasse, conivente, quando deputados amigos dele prometem apresentar emenda à
Constituição garantindo ao presidente da República o direito de se reeleger mais
de uma vez? Lula fez o certo.

E o que foi? Repetiu como se cumprisse um dever o que parece ter decorado:
“Discutir 2010 agora é um atraso. Acho que essa discussão não cabe. Acho que o
Brasil não precisa disso. A alternância de poder é uma coisa extremamente
importante para o fortalecimento da democracia". E ainda acrescentou, modesto e
realista: “Esse negócio de achar que tem pessoas que são imprescindíveis e
insubstituíveis não existe na política".

No início dos anos 60 do século passado, em meio à campanha para presidente
da República pela UDN, Jânio Quadros renunciou à candidatura. Fê-lo para se
fortalecer e continuar candidato. Deu certo. Uma vez eleito, renunciou à
presidência depois de governar por seis meses. Fê-lo com a pretensão de voltar
ao cargo munido de poderes excepcionais e com um Congresso submisso. Aí deu
errado. Era um pouco demais. 

Quando Itamar Franco escolheu Fernando Henrique Cardoso para candidato à sua
sucessão, obteve dele a garantiria de que jamais mexeria um dedo para se
reeleger. Mexeu os cinco. O Congresso aprovou emenda permitindo sua reeleição.
Fernando Henrique ganhou o segundo mandato com a promessa de criar mais empregos
e de manter o real valorizado. Desvalorizou-o em seguida.

Em 2004, José Serra afirmou por escrito que não largaria pelo meio o mandato
de prefeito de São Paulo para ser candidato ao governo. Registrou o compromisso
em cartório. Elegeu-se prefeito. E depois largou o mandato pelo meio para se
eleger governador. Está para nascer o político que, podendo conservar o poder,
abre mão dele. De resto, a eleição de Lula serviu para mostrar que ele é um
político igual aos outros.

Há quase dois meses, em conversa com o ministro Mares Guia, das Relações
Institucionais, Serra mandou um recado para Lula: topa apoiar o fim da reeleição
com a ampliação para cinco anos do mandato presidencial. Comentou que não fará
uma campanha com críticas ao governo caso venha a ser o candidato do PSDB a
presidente da República. “Farei uma campanha voltada para o futuro”,
antecipou.

O governador mineiro Aécio Neves não perde uma chance alertar seus colegas de
PSDB: “Temos que vencer em 2010 porque Lula voltará como candidato na eleição
seguinte”. A exemplo de Serra, ele se conforma com o fim da reeleição e o
mandato presidencial de cinco anos. Seria o preço a ser pago para exorcizar o
fantasma do terceiro mandato consecutivo de Lula.

As últimas cinco eleições presidenciais ocorreram em torno de Lula. Nada
indica que será diferente com as duas próximas. Ou três. Ou mais.

Ache um sorriso

segunda-feira, 29 de outubro de 2007, 11:54 | Online

Ache um sorriso e fique menos estressado, promete jogo

Game desenvolvido por universidade canadense pode reduzir estresse e aumentar confiança

Reuters

Reprodução

Jogador precisa clicar no rosto sorridente para ganhar pontos

TORONTO – Um game que tem como objetivo encontrar um figura sorridente
na tela do computador pode reduzir o estresse. Pesquisadores da
Universidade McGill em Montreal, no Canadá, dizem que testes provaram
que fazer isso por apenas cinco ou dez minutos ajuda a diminuir a
tensão e aumentar a confiança. 

A equipe de pesquisa desenvolveu um jogo chamado MindHabits Trainer,
no qual um exercício mostra uma série de rostos, com 15 delas franzidas
e uma sorrindo. O jogador tem de encontrar a figura sorridente o mais
rápido possível.

"É mais difícil do que parece", disse o professor de psicologia Mark Baldwin, chefe da equipe.

A idéia é que por meio da repetição a mente fique treinada para se
concentrar nos aspectos positivos da vida. Em um teste de campo, um
grupo de testes de operadores de telemarketing recebeu o pedido para
jogar diariamente por uma semana antes de começarem a trabalhar.

O grupo de controle passou de cinco a dez minutos jogando outro game, sem faces sorridentes, antes de iniciarem em seus postos.

No fim da semana, o grupo que jogou "encontre o sorriso" se disse
menos estressado, tinha maior auto-estima e vendeu mais, sendo
considerado como mais confiante em suas chamadas por telefone.
Notadamente, disse Balwin, eles tiveram níveis 17% menores do hormônio
cortisol, vinculado ao estresse.
 

As descobertas sobre o estudo aparecem na edição de outubro da revista acadêmica da Associação de Psicologia.

Categorias:Saúde e bem-estar

Tensão eletromagnética

Conheça os perigos da tensão
eletromagnética

Não bastassem os efeitos do campo
eletromagnético natural que atua sobre a Terra, o homem também é afetado pela
energia dos campos artificiais, provenientes dos aparelhos eletro-eletrônicos,
torres de alta-tensão, torres de celular, etc.

Na ordem natural da vida,
o homem, que também possui seus próprios campos eletromagnéticos, é influenciado
pelo campo natural, mas de uma forma equilibrada. No entanto, com o avanço
tecnológico, surgem mais e mais aparelhos eletro-eletrônicos e,
conseqüentemente, aumentam as tensões eletromagnéticas.

A tensão
eletromagnética é causada pela exposição do corpo humano a campos
eletromagnéticos artificiais, tais como rádio, TV, geladeira, geradores,
celulares, microondas. Eles penetram no organismo humano, alterando os processos
celulares. O resultado é que o homem acaba tendo sua energia vital, saúde
física, mental e psicológica afetadas.

Mesmo com a publicação de vários
estudos sobre efeitos negativos desses aparelhos, nenhuma medida concreta foi
tomada para combater o problema.
Veja abaixo uma relação dos principais focos
de emissão de campo eletromagnético artificial e seus males:

– Rede de
alta tensão, cabos de força ou torres de transmissão de energia: alguns estudos
mostraram que ficar próximo dessas redes pode causar leucemia. No Brasil, é
proibido ter construções a menos de 25m dessas redes. O mais aconselhável é que
nenhuma moradia ou empresa esteja a menos de 400 ou 500m.

Os campos
eletromagnéticos mais fortes estão entre uma torre de transmissão e outra e não
em torno da torre. Moradias próximas devem fazer com que os quartos fiquem o
mais longe possível das redes, principalmente o das crianças. Muros altos e
árvores ajudam a filtrar um pouco os efeitos dos campos elétricos. Alguns
gráficos de radiestesia também podem ajudar nestes casos.

– Aparelhos
domésticos: toda casa possui um ou mais aparelhos ligados que, conseqüentemente,
emitem campos eletromagnéticos. Comece a mudar isso ligando somente os aparelhos
que precisam ser usados em determinado momento.

Procure ficar a
distância mínima de 1m dos aparelhos. Mesmo que você desligue todos e os tire da
tomada, ainda existe a emissão de campos eletromagnéticos, pois os elétrons
continuam a se movimentar pelo circuito elétrico.

Preste atenção à chave
geral de força. Se existe algum aparelho ligado, isso significa que haverá
corrente elétrica passando pela chave e emitindo CEMs. Por isso, mesmo que a
chave estiver do outro lado da parede, evite colocar a cama ou a mesa de estudo
ou trabalho próximas da chave geral.

Cuidado com camas de metal. Se ela
estiver muito próxima de um aparelho eletrônico, será condutora dos CEMs,
afetando seu dono. Cuidado também com o rádio-relógio. Há pessoas que não
acordam bem quando têm um relógio próximo da cabeça.

– Televisão: quase
sempre a TV fica a menos de 1,5m de distância dos olhos. Esses aparelhos emitem
muitos CEMs e podem conservar a carga por vários dias, mesmo que desligados.
Colocar TV no quarto não é uma boa idéia. Se for o caso, coloque-a a mais de 2m
ou 3m de seu corpo.

– Computadores: quem tem de usar computador por
várias horas e todos os dias, além de ser bombardeado pelos CEMs, é afetado pelo
monitor em razão da luz ultravioleta, radiação eletromagnética e íons positivos
que podem prejudicar a visão e causar dores de cabeça.

Algumas
providências básicas podem ser tomadas para amenizar o problema, tais como: usar
protetores de tela; usar roupas naturais, já que as sintéticas ajudam na emissão
dessas energias, ter muitas plantas perto do computador e usar gráficos de
radiestesia.

– Celular: existe um grande dilema se o uso do celular faz
ou não mal a saúde. Na dúvida, use o menos possível.

Há problemas também
com o uso de material sintético na pintura dos ambientes, com o forno de
microondas, o excesso de iluminação artificial, o uso excessivo de metais no
corpo, etc. No entanto, quero deixar claro que não tenho nada contra a
modernidade, mas contra seus efeitos maléficos.

franco.guizzetti@terra.com.br
Franco Guizzetti/Especial
para o Terra

Categorias:Saúde e bem-estar

Curiosidades dos Simpsons

Os Simpsons em 14 fatos

Celebrando
o lançamento do filme, previsto no Brasil para o dia 17 de agosto,
selecionamos detalhes saborosos desses 20 anos de história

Hélio Gomes

1>>>A série é a mais
duradoura (e sem interrupções) entre os programas de animação da TV
americana. Em 19 de abril de 1987, a família Simpson fez sua primeira
aparição no "The Tracey Ullman Show". O episódio de número 400 marcou o
final da 18ª temporada, em 20 de maio deste ano. A próxima (2007-2008)
já está confirmada.

2>>>Em sua edição de 31 de dezembro de 1999, a revista "Time" escolheu "Os Simpsons" como a melhor série de TV do século 20.

3>>>O criador do
programa, Matt Groening, batizou os membros da família com os nomes de
seus próprios familiares: Homer, Marge, Lisa e Maggie. Apenas um deles
foi alterado: Matt por Bart.

4>>>Apesar de ser um
retrato ácido e fiel das entranhas da sociedade americana, tudo é
deliciosamente fake em "Os Simpsons". Os personagens nunca envelhecem,
apesar de vários episódios mostrarem datas comemorativas como
aniversários e festas de fim de ano. Não se sabe qual a localização de
Springfield – há dezenas de cidades com o mesmo nome nos EUA – e sua
geografia muda constantemente. O município foi fundado em 1796 pelo
pioneiro Jebediah Springfield. Ele estava numa missão espiritual, em
busca da "Nova Sodoma". A população da cidade (o número é sempre o
mesmo) é de 30.720 habitantes.

5>>>A seqüência de
abertura de "Os Simpsons" é uma das mais marcantes de todos os tempos.
O espectador pode não perceber, mas vários detalhes são alterados
constantemente. Bart pode escrever frases diferentes na lousa na cena
em que aparece de castigo em sua escola. Lisa às vezes toca novas
melodias com seu saxofone. Algo totalmente bizarro pode acontecer
quando a família se espreme no sofá – um truque utilizado pelos
animadores para "preencher" um episódio, fazendo com que a abertura de
30 segundos tenha até 1min30s. Desde 1989, no trecho em que o bebê
Maggie é escaneado no caixa do supermercado como um saco de batatas,
US$ 847,63 aparecem no visor da máquina – custo médio mensal da criação
de uma criança nos EUA naquele ano.

6>>>O clássico
"D’oh", proferido por Homer quando uma frustração pinta pelo caminho,
foi incluído no "Oxford English Dictionary". Outros bordões clássicos –
como o "Excelente…" do sr. Burns, patrão de Homer e dono da usina
nuclear da cidade – fazem parte do vocabulário de boa parte dos
americanos.

7>>>Apesar de a
série ser classificada como "de esquerda" por boa parte dos críticos
norte-americanos, Matt Groening prefere dizer que sua missão é mostrar
como um "cara normal pode ser oprimido pelo governo e por grandes
corporações". George Bush (pai) disse em entrevista no final dos anos
1980: "Precisamos fazer com que os americanos se pareçam mais com os
Waltons [velho seriado sobre uma família do interior, aquele do
John-Boy] e menos com os Simpsons".

8>>>Temas religiosos
são tratados de forma semelhante, ou seja, sobram críticas para
católicos, judeus, evangélicos, hindus, muçulmanos e outros fiéis.
Quanto aos Simpsons (menos Lisa), eles demonstram o comportamento
típico da ala pouco praticante da população cristã, procurando abrigo
em Deus quando a coisa aperta. Em momentos de desespero, Homer já pediu
ajuda a "Jebus" (assim mesmo, com b).

9>>>Sempre que
possível, roteiristas e animadores incluem piadas-relâmpago (quase
mensagens subliminares) em sinais de trânsito, jornais, embalagens de
produtos e onde mais for possível. A maioria só pode ser lida quando a
tecla "pause" é acionada.

10>>>Piadas sobre a
orientação sexual dos personagens concentram-se basicamente em cima de
Waylon Smithers. Entre outras coisas, ele já foi visto comprando
estrogênio. Apaixonado platonicamente por seu patrão, sr. Burns, ele
vive todos os dilemas típicos de um gay que não saiu do armário. Já
Patty Bouvier, irmã de Marge, assumiu sua homossexualidade num episódio
de 2005.

11>>>Os personagens
da série já viraram todo tipo de coisa: jogos de tabuleiro, videogames,
revistas em quadrinhos, produtos alimentícios etc. No campo musical – o
mais rico, graças às participações de artistas nas histórias -, a
discografia da família inclui discos antológicos como "The Simpsons
Sing the Blues" e "Songs in the Key of Springfield". O single mais
popular até hoje é "Do the Bartman", especialmente composto por Michael
Jackson para o eterno pré-adolescente.

12>>>Os membros do clã Simpson não são as únicas estrelas do programa. Eis as peculiaridades de quatro personagens brilhantes:
>> Nascido em 1889 (!!), Montgomery Burns é o vilão mais amado da TV. E não se fala mais nisso.
>> Imagine um veterano do Vietnã como diretor de sua escola. Ele é Seymour Skinner.
>> Apesar de suas escorregadas, Ned Flanders, vizinho de Homer, é o típico evangélico do bem.
>> Moe Szyslak é o dono do bar mais decadente do mundo. Quem não queria tomar uma por lá?

13>>>Além de ser uma
exímia saxofonista, baixista, guitarrista, pianista e vocalista, Lisa
Simpson é a personagem com maior QI da série: exatos 159 pontos. Membro
da Mensa Springfield, a pequena budista é o veículo preferido dos
roteiristas quando é necessário tratar de filosofia, história e
ciências em geral. Não por acaso, ela é a Simpson mais popular no Japão.

14>>>"Os Simpsons –
O Filme" promete arrebentar. Numa jogada sensacional, algumas lojas da
rede 7-Eleven nos EUA serão transformadas em unidades da Kwik-E-Mart,
aquela dirigida pelo indiano Apu Nahasapeemapetilon na série. Alguns
produtos sairão do mundo 2-D para a vida real. A redação de Galileu
pede em coro: queremos as nossas latas de Duff Beer!

Categorias:Entretenimento

Reengordar

Saúde

Não existe solução
mágica

Obesos que fazem redução de
estômago 
burlam as restrições e voltam a
engordar

– alguns até enfrentam a cirurgia de
novo


Mariliz Pereira
Jorge

Roberto
Setton

Sueli: operou, emagreceu, teve um bebê,
relaxou e agora luta para evitar a segunda cirurgia: "Emagrecer de novo está
sendo um martírio"


Cortar, costurar e emagrecer. A cirurgia do estômago, que
começou a se propagar na virada da última década, trouxe uma solução para a
obesidade que parecia definitiva. Indicada apenas para casos extremos, com
fatores de risco ainda muito altos (2% de mortes, 10% de complicações
pós-operatórias), a redução significava, de um lado, cuidados para sempre –
comer muito pouco, conviver com náuseas e diarréias – e, de outro, a
possibilidade de perder algumas dezenas de quilos e não voltar a engordar.
Afinal, como ganharia peso uma pessoa com capacidade estomacal reduzida para o
equivalente a uma xícara de café? Passados quase dez anos e cerca de 80.000
cirurgias, as primeiras estatísticas de longo prazo feitas no Brasil mostram que
a cirurgia bariátrica, como é chamada pelos médicos, não é, infelizmente, uma
solução mágica. Segundo dados do Hospital das Clínicas da Universidade de São
Paulo, um terço dos pacientes recuperou em sete anos bem mais peso do que o
esperado. Destes, 5% a 10% voltaram a ser obesos mórbidos, aqueles cujo índice
de massa corporal fica acima de 40, quando o desejável é entre 18,5 e 25. "A
obesidade é uma doença crônica. A cirurgia é um artifício para controlá-la, mas
os mecanismos metabólicos, psicológicos e sociais envolvidos são muito
resistentes. O paciente precisa ser acompanhado pelo resto da vida", diz o
cirurgião do aparelho digestivo Thomas Szegö, presidente da Sociedade Brasileira
de Cirurgia Bariátrica e Metabólica em São Paulo.

Ex-obesos que passam
pela redução de estômago engordam de novo porque aprendem a enganar o próprio
organismo e voltam a fazer o que sempre fizeram: comer demais. "A maioria tem
essa volúpia por comer, que a cirurgia nem sempre muda. Aos poucos, eles vão
descobrindo os alimentos que dão prazer e que são facilmente digeridos. Percebem
que, mesmo sendo pouco de cada vez, conseguem comer o dia inteiro", explica
Arthur Garrido, um dos pioneiros nas cirurgias de estômago e chefe do Grupo de
Estudos da Cirurgia da Obesidade Mórbida do Hospital das Clínicas. A técnica
usada em 85% das cirurgias no Brasil é o chamado bypass gástrico: o estômago é
separado em dois pedaços, um bem maior (chamado "ex-estômago"), que fica ocioso,
apenas produzindo sucos gástricos, e um pequeníssimo, com capacidade para 20
mililitros, ligado por uma alça diretamente ao intestino delgado. Nessa ligação
é colocado um anel de silicone que restringe ainda mais a capacidade de ingestão
de alimentos. A pessoa é obrigada a comer pouquíssimo, mastigar muito bem e
engolir com cuidado.

Como se burla tanta
restrição? Com tudo o que se esfarela, é líquido ou pastoso: salgadinho de
pacote, biscoito, sorvete, creme de leite, leite condensado, sopa, amendoim,
bebidas alcoólicas. A compulsão alimentar é tão poderosa que algumas pessoas
submetidas à cirurgia conseguem alargar ou até romper o anel restritivo. "Pela
minha experiência, 80% dos operados saem do hospital com estômago capaz de
receber 20 mililitros de alimentos e, depois de alguns anos, a capacidade já
subiu para cerca de 100 mililitros", diz o endocrinologista Geraldo Medeiros.
Além do padecimento físico e psicológico, a reincidência na obesidade pode levar
à segunda cirurgia, igualmente sem garantia de sucesso. O crítico literário
Rodrigo Gurgel, 47 anos, de São Paulo, pesava 230 quilos quando fez a operação,
em 2001. Perdeu 100 quilos em um ano, mas voltou a engordar. "Passava os dias
beliscando. Bolo com café, por exemplo, vai que é uma maravilha", diz Gurgel. Em
2003 foi operado de novo e seu peso se estabilizou, mas no último ano engordou e
está com 160 quilos. Gurgel voltou à luta dos cuidados e acompanhamentos – quer
ser, pelo menos, "um obeso mais saudável".

Mirian
Fichtner

Sandra, duas cirurgias, 12 quilos a mais
depois da segunda: "Quando me dou conta de que estou engordando ou alguém
comenta, fico deprimida e busco refúgio na comida"


Atualmente são feitas cerca de
25.000 cirurgias de redução de estômago por ano no Brasil (nos Estados Unidos
são 180.000). A duração caiu de quatro horas para menos de duas, os
procedimentos se aprimoraram e os cirurgiões são mais hábeis e experientes do
que nos primórdios da técnica. Por isso, os riscos de complicações graves caíram
para 2% e a taxa de mortalidade não ultrapassa 1%. Apesar da insistência dos
médicos na necessidade de acompanhamento pós-operatório constante, passados dois
anos metade dos operados deixou de ir ao consultório. É justamente nesse período
que se dá a maior perda de peso; depois, a balança se estabiliza e a tendência é
relaxar – e engordar. A dona-de-casa Sandra Kerber, de Porto Alegre, é um caso
clássico. Pesava 154 quilos ao fazer a cirurgia, em 2001. Perdeu 65 quilos em
dois anos; ainda tinha 10
a perder quando começou a comer mais do que devia, a ponto
de o anel restritivo se romper. "Não eram grandes quantidades, mas eu comia o
dia inteiro, um pouquinho de cada vez, coisas que engordam mesmo", reconhece.
Veio a segunda cirurgia, e Sandra chegou a 82 quilos. Hoje, pesa 94. "Tenho
pavor de engordar e sei que posso recuperar tudo se não controlar minha
compulsão. Mas, cada vez que me dou conta de que estou engordando ou que alguém
faz algum comentário, fico deprimida, ansiosa e acabo sempre buscando refúgio na
comida", diz. Perder peso na escala exigida pelos obesos mórbidos fica mais
difícil a cada tentativa. A coordenadora comercial Sueli Cardoso Coca, 44 anos, pesava
135 quilos quando foi operada, há sete anos. Em dois anos, baixou para 76. Com
acompanhamento nutricional e endocrinológico, engravidou e engordou apenas 9
quilos. Depois do parto, ela abandonou as aulas de dança de salão, esqueceu a
nutricionista e engordou. "Comia o dia inteiro, inclusive a papinha do bebê",
conta. Não quer nem pensar numa segunda cirurgia e voltou a se tratar, mas
reconhece: "Na primeira vez, perdi peso rapidamente. Agora, está sendo um
martírio".

Categorias:Saúde e bem-estar